Apenas com a construção de uma nova estrutura de interpretação para guiar nossos processos decisórios os resultados poderão ser maximizados.
A questão da dependência química é sem duvida alguma um grande desafio para profissionais de saúde hoje em todo o mundo, porém, tanto quanto eles, as sociedades em geral também demandam de maneira urgente elementos que permitam a construção de uma nova percepção do problema, possibilitando assim a quebra dos atuais paradigmas.
Diante de qualquer desafio, indivíduo e sociedade, buscarão sempre de maneira consciente ou não mensurar e mapear as possíveis variáveis que integram o quadro.
A dependência química, possuidora de elementos de natureza psicológica, fisiológica, histórica e etc. possui um numero geralmente tão elevado de variáveis que em muitos casos tem levado a sociedade como um todo a uma sensação de impotência diante do fenômeno, sendo o terapeuta um membro da sociedade em que habita, não raramente partilha também desses medos, crenças e frustrações e isso pode levar ao insucesso da abordagem caso o profissional não consiga superar estes fatores.
O Psiquiatra brasileiro Dr. Marcos Noronha em seu livro “Terapia Social” lança luz sobre uma questão de grande impacto ao paciente, trata-se da etino-psiquiatria.
Nesta abordagem o terapeuta tem como objeto a questão cultural e os costumes de uma sociedade como agente gerador de benefícios ou desequilíbrios em seus membros, ou seja, os hábitos, cultura e costumes que temos enquanto sociedade podem produzir desequilíbrios emocionais que levam ao adoecimento de um ou mais indivíduos do grupo.
Tratar X Punir (Um dilema nem tão novo assim)
No Brasil assim como em muitos países existe uma relação muito estreita entre produção e consumo de drogas e danos sociais, como aumento no índice geral de violência, crimes e homicídios.
Em meio a este emaranhado de fenômenos negativo está o adicto, alvo de leis que criminalizam o consumo e a dependência e ainda sujeito a preconceitos e estereótipos; “A sociedade está constantemente dividida entre recuperar ou punir o adicto.”
Quando recebemos a família do adicto em nosso consultório é comum que eles acreditem que ajudarão no processo se pressionarem o adicto de alguma forma, em muitos casos isso pode levar a afirmações desastrosas por parte de membros da família como; “Você que quis usar, então agora tem que aguentar as consequências…”
Tecnicamente não existe nenhuma relação entre qualquer desconforto sofrido pelo adicto e sua recuperação, portanto como sociedade, precisamos rever nossa relação com aqueles que necessitam de apoio para superar a dicção, o desconforto a qual muitos dos adictos passam seja pela sensação de exclusão, pela aplicação de castigos físicos ou outros métodos punitivos como privação de liberdade, são apenas sinais de que o verdadeiro processo de reabilitação ainda não foi iniciado.
Para que qualquer abordagem neste contexto seja produtiva, é necessário que seja realizado primeiro uma mudança nos padrões emocionais do paciente, tirando-o de estados emocionais limitantes, e eliciando estados mentais produtivos, apenas dentro de um poderoso estado mental de autoconfiança, acolhimento e auto superação, o adicto consegue acessar as programações mentais que produzem a dependência, e este acesso, é à base de todo e qualquer tratamento bem sucedido.
A culpa não é sua! (Você é parte da solução)
Provavelmente você já deve ter se perguntado em algum momento o motivo de termos índices de recaída tão elevados após tratamentos convencionais.
Antes de tudo eu preciso te dizer, a culpa não é do adicto, também não é sua culpa como profissional, nem tão pouco é culpa da abordagem utilizada…
Mas como assim? O que tem acontecido em nossos tratamentos é uma falha no processo e não na abordagem, o adicto assim como todos nós deseja um estado melhor no futuro, e as ferramentas que você tem são exatamente o que você precisa para ter sucesso pleno nesses casos.
Você precisa apenas fazer ajustes no seu processo, ou seja, a forma como você alinha todos estes elementos, vontade do adicto, abordagem e tempo.
Vamos entender isso melhor, nos aprendemos muito cedo a pensar de forma cartesiana e no pensamento matemático a ordem dos fatores não altera o produto, por isso a maior parte dos processos terapêuticos são randômicos e este é o erro…
O adicto não pode identificar os seus fatores internos de consumo nem sua ordem de importância, se você souber identificar com ele, tratar e mensurar seus resultados cronologicamente, pronto! Você estará apto a construir uma abordagem totalmente conectada a cada paciente e sua realidade interna.
O segredo está na "mente" do adicto
Um tratamento baseado em mapeamento e neutralização dos fatores de consumo tem a vantagem de atuar na causa e não no sintoma, isso permite uma revolução ainda maior que é o tratamento do adicto sem internação, uma vez que ao passar pelos mesmos locais e circunstancias poderemos mensurar em tempo real o nível de resistência do paciente aos estímulos do ambiente.
Agora, caso ocorra consumo nas fases iniciais do tratamento isso deixa de ser uma ameaça ao tratamento e passa a fazer parte do processo, reduzindo ainda os riscos de “crise de abstinência” uma vez que não ocorre a ruptura abrupta do consumo.
Como não podemos limpar o mundo para o adicto passar, precisamos produzir novos padrões de comportamento nos mesmo cenários, assim, cada nova conquista tem sua solidez testada em tempo real. O mundo ainda é o mesmo mas o adicto está diferente!