Essa história trata de um personagem fictício, mas quaisquer semelhanças com você não será mera coincidência... ela fala do modo que estamos conectados às nossas experiências e do fato de por trás de nossa lógica aparente, sempre haverem fatores misteriosos...
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Meu nome é Otávio Krenak… mas isso não é importante, mesmo assim acredite quando digo que nunca tive medo de altura… nunca tive medo de água ou de mergulhar, nunca temi o destino, não por arrogância, mas por aprender desde cedo que um homem faz o que pode e o destino se revela.
Na escola sempre fui um bom aluno, tinha ótimas notas, fazia algumas “artes”, mas meus professores sempre me disseram – “Siga em frente com sua capacidade, pois você poderá realizar grandes coisas…”
Para uma criança, tudo que é dito por pessoas em que se tem respeito se torna verdade, então sempre me considerei privilegiado por ter recebido uma programação mental positiva, que sempre me impulsionou a confiar em mim mesmo.
Quando criança adorava me divertir com amigos e a família no único ponto de lazer que havia em nossa pequena cidade no interior Mineiro, um lago… era um ambiente muito divertido, no verão íamos lá mergulhar, nadar, fazer churrasco, enfim, o lazer descontraído que sempre fazem parte de nossa infância.
Certa vez, em um domingo de verão, estava eu e alguns amigos nos divertindo neste lago citado anteriormente, eles estavam a minha volta, adoravam minha companhia, adoravam minhas estórias.
Eu realmente era o “alfa” do bando e era muito confiante da minha coragem, modéstia à parte, sempre estive um pouco acima da média nesse quesito.
Contudo, eu não sabia que este era um dia especial, que logo se revelaria uma constante em minha vida devido aos eventos que se segue…
Neste lugar havia uma pedra razoavelmente alta que por sua posição permitia uma linda visão de toda a área ao redor, por estar a beira do lago, vários dos meus amigos faziam saltos dela, caindo acrobaticamente na água refrescante do lago.
Eu nunca havia saltado e sabia que seria uma ótima experiência, então resolvi ir até lá e fazer meu salto, eu planejava fazer algo diferente, inédito!
Tudo que eu fazia sempre era diferente, mágico, chamava a atenção… afinal foi assim que conquistei minha popularidade.
Cheguei no alto da pedra, olhei ao redor, não avisei que eu iria saltar, eu tinha imaginado uma acrobacia que com certeza deixaria todos pasmos, me afastei… corri pra pegar impulso e…
Não sei o que aconteceu, não consegui saltar, acho que peguei pouco impulso, então me afastei novamente e corri com mais velocidade, mas de repente cheguei a uma conclusão estarrecedora.
Minhas pernas estavam travadas, eu não conseguia saltar, meu coração estava acelerado e minhas mãos suaram frio…
Isso nunca havia acontecido comigo, parei por alguns instantes tentando racionalizar meu medo, dizer a mim mesmo que era perfeitamente possível, que sentir medo era normal e o medo passaria assim que eu pulasse pela primeira vez, como sempre acontece nesses casos.
Nada adiantou… eu estava pela primeira vez paralisado e estava totalmente consciente disso. Afastei-me, sentei, tentei refletir sobre o que teria acontecido, mas minha mente parecia estar anestesiada, eu não conseguia entender que sensação era aquela…
Logo meus amigos me chamaram para ir embora, ninguém havia percebido o que aconteceu, eu não quis contar, tive medo de perder o respeito deles, pois sabia que qualquer um conseguiria realizar aquele salto, até mesmo algumas garotas já o haviam feito e nunca nenhum problema havia ocorrido.
Naquele dia, demorei muito pra dormir, e repeti a cena várias e várias vezes em minha mente, mas foi inútil.
O tempo passou e várias vezes eu voltei aquele lugar, me diverti muito, meus amigos nunca perceberam que eu era o único que nunca havia saltado, talvez por acreditarem ser algo tão fácil e banal que qualquer um faria, ou por acreditarem que para alguém com minha “capacidade” seria muito fácil pular a hora que quisesse.
O fato é que essa lembrança nunca mais saiu da minha mente, quando chegou o período de fazer faculdade eu me mudei da cidade, porém esta lembrança permanecia… perseguia-me.
Não havia motivos, explicações ou respostas, porque em minha vida várias vezes enfrentei alturas absurdas sem sequer tremer um músculo, sempre ia a praias, rios e lagos sem nunca sentir nenhum medo.
Hoje sei que era uma coisa entre eu e aquela pedra. Ela me desafiou… e me venceu…
Não havia trauma, fobia ou medo, mesmo assim em minha vida, vitória após vitória, eu sempre me lembrava dessa derrota, e sabia que só recuperaria o poder sobre mim e sobre o mundo, voltando aquele lugar com um único propósito: Saltar e vencer.
Mas, por longos anos todas as vezes que estive lá, senti que não estava preparado, e tenho sempre guardado comigo este segredo que estou dividindo apenas com você.
Hoje, sou uma pessoa muito feliz, nunca duvidei da minha capacidade, tenho ainda muitos projetos e acredito neles, sei que tenho as ferramentas psicológicas para construí-los, mas sinto que algo me foi roubado naquele dia.
Sei que irá chegar o dia em que terei que ir aquele lugar e encarar aquela que é a sintetização dos meus pesadelos: “A minha Pedra da Decisão”…
Talvez você também tenha a sua “‘pedra da Decisão”… e você a tenha guardado em algum lugar secreto dentro de você por todo esse tempo, mas nós dois sabemos que se aproxima o momento em que você terá que fazer aquele salto. O trem irá passar por você… e você terá que pular nele.
A cada dia que passa você é impulsionado nessa direção, pelo destino… por seu inconsciente… pelo universo… por Deus… mesmo assim se você precisar de um amigo estarei aqui, poderemos darmos as mãos e saltarmos juntos.
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